Zoo-Fenaquistiscópio para o MIS SP

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Autor: Wilson Lazaretti (Wal)

Este instrumento foi construído especialmente para a exposição relativa às comemorações dos 50 anos do Núcleo de Cinema de Animação de Campinas e vai ser entregue ao MIS – Museu da Imagem e do Som de São Paulo no dia 31 de maio de 2025.

Não é uma invenção, nem releitura do que foi criado há de 180 anos. É simplesmente um instrumento que atende as necessidades de uma oficina de animação. É todo construído em MDF (Medium Density Fiber Board) com rolamentos para deslize do tambor principal e das roldanas.

Na verdade, são três instrumentos em um só: um zootroscópio, um fenaquistiscópio horizontal e abaixo do instrumento, um fenaquistiscópio vertical com modo de observação através de um espelho.

É um instrumento muito utilizado no mundo inteiro para o aprendizado da técnica de animação. Exige do animador principiante um cálculo geométrico para saber aonde colocar o próximo desenho. Uma janela doméstica, a melhor mesa de animação que existe, serve para a multiplicação dos desenhos e permitir ao animador concentrar-se em seu desenho. De vez em quando, permite ainda, fugir desta concentração e olhar para fora e observar o mundo real.

A arte da animação consiste justamente em se colocar um desenho atrás do outro. É um princípio inerente ao ser humano e que remonta a trinta ou quarenta mil anos. O homem, quando desenhou nas paredes das cavernas, já tinha a intenção de reproduzir o movimento e assim foi mantida esta relação que conhecemos até hoje. O fogo, ou seja, uma fonte de luz, foi e é o elemento principal em todo o processo técnico que cerca a animação.

Naquela época o homem colocou seu corpo diante do fogo, viu a sua sombra projetada e, sobretudo, animada na parede. Esta pode ser considerada coma a forma mais primitiva (e simples) de se fazer animação. Esta relação, fonte de luz, animação e parede, ou a tela, se mantém até hoje e está em nosso dia-a-dia, não só nas salas de cinema como também em nossos aparelhos celulares.

Quando criaram a técnica do cinema, que não é a história de um ser humano só, muitos artistas, engenheiros, cientistas e loucos varridos contribuíram para que o cinema adquirisse uma linguagem própria até se encontrar no estágio em que está hoje sendo utilizada. Aí, houve um casamento “perfeito” entre a nova linguagem trazida pela técnica cinematográfica e a antiga técnica da animação.

Os instrumentos de animação, como este prestes a chegar ao MIS, permitem apenas a reprodução de animações cíclicas ou uma “coisa” que vai  e volta. Não é possível contar uma história com tão poucos desenhos. Nos dias de hoje, 24 desenhos correspondem a dois segundos de projeção. O livrinho mágico ou Folioscópio já permitia retratar um acontecimento com um número acima de 100 desenhos. Mas artisticamente, o grande libertador das animações cíclicas foi Émile Reynaud com o seu maravilhoso Teatro Óptico, que, dramaticamente, jogou todo o seu invento no Rio Senna prevendo que a técnica do cinema em película seria o final fatal da sua invenção. E foi! Algumas décadas mais tarde, o Teatro Óptico foi restaurado e posto em funcionamento, circulando em alguns festivais de animação pela Europa. Na verdade, o Teatro Óptico era uma combinação de vários instrumentos como o zootroscópio, o praxinoscópio e uma lanterna mágica que projetava os cenários fixos. Vejam que, já no finalzinho do século XIX as animações eram exibidas coloridas e com música e talvez até trilha sonora ao vivo. Este sim incluía alguns instrumentos ópticos tais como espelhos e objetivas.

Estes nomes estranhos como zootroscópio, fenaquistiscópio, folioscópio, praxinoscópio são palavras construídas a partir da língua grega, possivelmente do período clássico.

Para encerrar, voltemos ao nosso Zoo-Fenaquistiscópio Modelo METRÓPOLIS – MIS SP:

  • O público pode construir suas animações se assim o quiser.
  • O zootroscópio e o fenaquistiscópio horizontal funcionam a 24 desenhos e o fenaquistiscópio vertical, a 16 desenhos.
  • Para o zootroscópio os papéis são recortados no formato A7, ou seja, 74mmX105mm. Folhas de papel sulfite A4 dão este formato.
  • Há um gabarito para o fenaquistiscópio a 16 desenhos.
  • Já para o fenaquistiscópio a 24 desenhos é necessário traçar com um compasso em uma folha de papel A3 (bloco de folhas para desenho artístico vendido em papelaria). Um ângulo de 15 graus divide a circunferência em 24 partes. (Vale aqui exercitar um pouco da geometria Euclidiana.!)
  • É necessário que cada desenho corresponda a uma janela de observação, porque estamos tratando de uma forma de desenho animado cíclica e não consecutiva “ad infinitum”, como em uma película cinematográfica.

Seguimos!

Wilson Lazaretti

4 respostas para “Zoo-Fenaquistiscópio para o MIS SP”

  1. Avatar de Marta Bartira
    Marta Bartira

    Acho muito importante, nos tempos de IA, botar as mãos na massa para fazer a criação artística.

    Exemplo dado por ZFcopio e o valoroso e imprescindível Núcleo de Cinema de Animação de Campinas!

    PARABÉNS pela caminhada artística e humanista abraços dançantes : ) com ❤️

  2. Avatar de Denise Martha Baptista
    Denise Martha Baptista

    Parabéns 👏
    A exposição vai ficar LINDA

  3. Avatar de Diego
    Diego

    Grande Wilson, excelente professor e mestre como pessoa!

  4. Avatar de Guilherme
    Guilherme

    Excelente trabalho, inspirador!

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